Esta não é uma história qualquer. Não fala de um menino qualquer, nascido num país qualquer. Fala de um menino nascido numa terra a que um dia chamaram “terra do sol”.
Era uma vez um menino na Terra do Sol:
Uma terra bela, mas que só tinha sol. Sol e mar. E terras lavradas, que às vezes davam pouco pão e outras vezes nem isso. Uma terra que outras riquezas nunca teve para além das que a mãe natureza pariu. Espigas de milho, peixe do mar, searas de trigo, algas marinhas, oliveiras e cachos de uvas...e pouco mais.
De entre os quatro cantos do mundo, o menino desta história tinha que nascer logo aqui, numa terra que namora as pessoas e lhes desperta paixões, sem ter intenções de as fazer felizes. Qual cadela vadia, que pare os filhos e não os ampara.
Uma terra que nunca teve um filão de ouro, um diamante, ou outro minério que merecesse cotação em bolsa. Onde nunca se construíram arranha-céus, porta-aviões ou naves espaciais.
Onde por muitos anos a maioria dos homens só usava gravata nos funerais. As mulheres não se sentavam na igreja ao lado dos maridos, nem se desnudavam à sua frente. Os casais praticavam o coito com a luz apagada, em vez de fazerem amor.
Um reinado sem rei nem roque, de onde os potenciais governantes capacitados se evadem e onde os candidatos a qualquer lugar ao sol começam a desgovernar muito antes de subirem ao trono.
Um país ainda marcado pelas sequelas de quarenta e oito anos de ditadura, que procederam a séculos de monarquias duvidosas, de governações vergonhosas, de compadrios descarados. Uma sociedade eternamente amordaçada nas opiniões e na vontade própria.
Um povo acostumado a baixar a cabeça ao pároco. A tratar por vossemecê o presidente da junta ou o farmacêutico. A permitir que as beatas da paroquia interferissem nas suas vidas e lhes adulterassem a já por si limitada felicidade. A bater nas crianças que não pediam a bênção ao padrinho.
Um povo a quem ensinaram a discutir quando convém, mas sem um objectivo definido. Que mais parece uma daquelas famílias numerosas, com pouco pão, onde quase tudo escasseia. Onde todos ralham e ninguém tem razão.
Um dia disseram-lhes que também tinham direito a usar sapatos, mas não lhe ensinaram que quem se esforça no seu fabrico deveria ter direito a escolher o par que melhor de adapte aos seus pés. Que quem constrói as casas também deveria ter direito a viver nelas.
Incutiram-lhes os valores da vergonha, da humildade e da obediência, para que aprendessem a não questionar o autoritarismo e o oportunismo que lhes são impostos.
Acostumaram-se a ver as coisas boas a acontecerem apenas aos outros e a acharem-se "non gratas".
A olhar a prosperidade como a um bem destinado apenas aos que lhes aparecem todos os dias no écran da televisão. Resignando-se apenas a sonhar com a realidade dos que conseguem.
Vivem a vida como marionetas, movidos por mãos engenhosas, sem se darem de conta do quanto são manipulados, porque nunca conheceram outra forma de viver.
Quase tudo o que é realmente importante lhes passa ao lado, por se deixarem levar pelas distracções premeditadamente criadas para lhes desviar a atenção do tanto que lhes negam.
Semeiam o trigo, moem a farinha, amassam a massa, levam-na ao forno, mas depois contentam-se com as migalhas, por não se acharem merecedores de um pão inteiro.
Não percebem que enquanto se limitarem a cobiçar o carro de alta cilindrada que passa na rua, a poeira que este lhes atira para os olhos os impedirá de analisar o perfil de quem o conduz.
Acabam por perder a capacidade de distinguir aqueles que se esforçaram por o ganhar e os que o roubaram. Que os roubos não são apenas os que se praticam à mão armada.
Pior do que isso, é viverem anos deslumbrados por bandidos e vigaristas. Quando por fim conseguem sacudir a "poeira" dos olhos, já o carro vai longe...
ps: A terra, os "cegos" e os "reis" desta história poderão parecer-vos comuns a muitas outras terras, mas neste caso falo-vos da minha.
O menino poderia ser eu. Mais ou menos cego que os demais, mas sempre apaixonado e fiel à terra onde nasceu.
Porque o meu país é uma terra de pouco pão, mas de muita gente de bem. De ruas estreitinhas, de casas velhinhas, mas onde em cada esquina existe sempre um bom dia à minha espera...
Francisco Vieira
Era uma vez um menino na Terra do Sol:
Uma terra bela, mas que só tinha sol. Sol e mar. E terras lavradas, que às vezes davam pouco pão e outras vezes nem isso. Uma terra que outras riquezas nunca teve para além das que a mãe natureza pariu. Espigas de milho, peixe do mar, searas de trigo, algas marinhas, oliveiras e cachos de uvas...e pouco mais.
De entre os quatro cantos do mundo, o menino desta história tinha que nascer logo aqui, numa terra que namora as pessoas e lhes desperta paixões, sem ter intenções de as fazer felizes. Qual cadela vadia, que pare os filhos e não os ampara.
Uma terra que nunca teve um filão de ouro, um diamante, ou outro minério que merecesse cotação em bolsa. Onde nunca se construíram arranha-céus, porta-aviões ou naves espaciais.
Onde por muitos anos a maioria dos homens só usava gravata nos funerais. As mulheres não se sentavam na igreja ao lado dos maridos, nem se desnudavam à sua frente. Os casais praticavam o coito com a luz apagada, em vez de fazerem amor.
Um reinado sem rei nem roque, de onde os potenciais governantes capacitados se evadem e onde os candidatos a qualquer lugar ao sol começam a desgovernar muito antes de subirem ao trono.
Um país ainda marcado pelas sequelas de quarenta e oito anos de ditadura, que procederam a séculos de monarquias duvidosas, de governações vergonhosas, de compadrios descarados. Uma sociedade eternamente amordaçada nas opiniões e na vontade própria.
Um povo acostumado a baixar a cabeça ao pároco. A tratar por vossemecê o presidente da junta ou o farmacêutico. A permitir que as beatas da paroquia interferissem nas suas vidas e lhes adulterassem a já por si limitada felicidade. A bater nas crianças que não pediam a bênção ao padrinho.
Um povo a quem ensinaram a discutir quando convém, mas sem um objectivo definido. Que mais parece uma daquelas famílias numerosas, com pouco pão, onde quase tudo escasseia. Onde todos ralham e ninguém tem razão.
Um dia disseram-lhes que também tinham direito a usar sapatos, mas não lhe ensinaram que quem se esforça no seu fabrico deveria ter direito a escolher o par que melhor de adapte aos seus pés. Que quem constrói as casas também deveria ter direito a viver nelas.
Incutiram-lhes os valores da vergonha, da humildade e da obediência, para que aprendessem a não questionar o autoritarismo e o oportunismo que lhes são impostos.
Acostumaram-se a ver as coisas boas a acontecerem apenas aos outros e a acharem-se "non gratas".
A olhar a prosperidade como a um bem destinado apenas aos que lhes aparecem todos os dias no écran da televisão. Resignando-se apenas a sonhar com a realidade dos que conseguem.
Vivem a vida como marionetas, movidos por mãos engenhosas, sem se darem de conta do quanto são manipulados, porque nunca conheceram outra forma de viver.
Quase tudo o que é realmente importante lhes passa ao lado, por se deixarem levar pelas distracções premeditadamente criadas para lhes desviar a atenção do tanto que lhes negam.
Semeiam o trigo, moem a farinha, amassam a massa, levam-na ao forno, mas depois contentam-se com as migalhas, por não se acharem merecedores de um pão inteiro.
Não percebem que enquanto se limitarem a cobiçar o carro de alta cilindrada que passa na rua, a poeira que este lhes atira para os olhos os impedirá de analisar o perfil de quem o conduz.
Acabam por perder a capacidade de distinguir aqueles que se esforçaram por o ganhar e os que o roubaram. Que os roubos não são apenas os que se praticam à mão armada.
Pior do que isso, é viverem anos deslumbrados por bandidos e vigaristas. Quando por fim conseguem sacudir a "poeira" dos olhos, já o carro vai longe...
ps: A terra, os "cegos" e os "reis" desta história poderão parecer-vos comuns a muitas outras terras, mas neste caso falo-vos da minha.
O menino poderia ser eu. Mais ou menos cego que os demais, mas sempre apaixonado e fiel à terra onde nasceu.
Porque o meu país é uma terra de pouco pão, mas de muita gente de bem. De ruas estreitinhas, de casas velhinhas, mas onde em cada esquina existe sempre um bom dia à minha espera...
Francisco Vieira
O meu abraço a todos aqueles que por aqui continuam a passar. Aos que me comentam, aos que me mandam emails.
ResponderEliminarA minha amizade a todos e as minhas sinceras desculpas aos que não tenho visitado.
Um bom fim de semana para todos.
Francisco Vieira
Ola Francisco.
ResponderEliminarVotos de um bom fim de semana.
Que tudo esteja a correr conforme desejado.
Abraço
Simplesmente brilhante.
ResponderEliminarAbraço.
E é este o País que temos amigo, onde os povos que vão chegando vão fazendo como o cuco, que se vai apoderando do ninho, e vai empurrando com o cu os habitantes que já cá existiam.
ResponderEliminarMas tudo isto com a conivência que lhe é permitida, temos de ir defendendo o resto que ainda vai sobrando com as armas que temos.
Beijo de luz e paz.
Francisco
ResponderEliminarLindo e verdadeiro texto, sem papas na lingua, tudo o que disseste é VERDADE PURA.
Porque o meu país é uma terra de pouco pão, mas de muita gente de bem. De ruas estreitinhas, de casas velhinhas, mas onde em cada esquina existe sempre um bom dia à minha espera...
Eu também adoro o meu País, só tenho pena que ande de mâos em mãos, à deriva.
Beijinhos e Bom fim de semana.
Sonhadora
Emocionante Francisco.
ResponderEliminarBjs.
Francisco que bela descrição de dua terra. Nota-se que anda sempre enamorado e isso é muito bom, ainda que tenhamos que manter os olhos abertos.
ResponderEliminarUm beijo,
Isadora
Meu lindo,
ResponderEliminarPasso para deixar-te um grande fim de semana, cheio de bons acontecimentos.
Hoje não li teu post...
Estou tão cansada!!! Mas não podia deixar de vir por aqui.
Beijinhos, sempre
Um beijo com carinho e um cheirinho em você...;)
ResponderEliminarFrancisco, essa terra que descreves não é muito diferente das que conheço, felizmente e infelizmente.
ResponderEliminarAbraço e bom fds!
Olá Francisco
ResponderEliminarBoa noite bom dia conforme a hora que me estejas a ler
Embora passe praticamente todos os dias por aqui nem sempre tenho pachorra para escrever
Sou mesmo um perguiçoso nesse aspecto, senão vejamos: ando há uma remessa d e tempo para te escrever enviando um mail e nem isso
Desculpa mas qualquer dia vou me propor fazer isso
Entretanto adorei ler esta mensagem que s e aplica a centenas milhares de meninos desta terra que é a nossa
mas a esperança é sempre a ultima a morrer
Vamos vivendo da esperança
Aquele abraço amigo
Luis Antunes
A luta do povo não vai ficar por aqui...E enquanto vivermos continuamos a mesma luta até ao ultimo minuto de vida...Sempre em frente,e a luta vai continuar...Um abraço amigo Vieira.
ResponderEliminarOlá Francisco, lindo texto.Muita sorte para o que te propões realizar.Beijocas.
ResponderEliminarFranciso
ResponderEliminarA tua escrita continua viva interessante e verdadeira. Tem vida...e é isso que cativa.
Como vais nos teus novo caminhos? Mandei-te um email...não sei se recebeste porque, nesse dia enviei 4 e ninguém me respondeu...
Espero que esteja tudo bem contigo.
Beijo
Graça
Esse menino que és tu, dessa terra que é a tua, cresceu e hoje é um Homem, que longe dessa terra lhe aponta os "defeitos", de que ela afinal não é culpada, mas também lhe mostra o seu imenso amor e toda a sua grande saudade.
ResponderEliminarAbraço.