MOCIDADE

A manhã invadia-me a cama
e arrancava-me à minha indolência,
esfregando-me o rosto
nos raios de sol de Setembro.
Os mesmos raios de sol
que se sentavam comigo à mesa da varanda,
entre o copo de sumo de tomate,
os biscoitos de aveia e as uvas maduras.
Os mesmos raios de sol
que mendigavam à minha boca palavras quentes,
e carícias às minhas mãos húmidas.
Os raios de sol passeavam-se pelo jardim
e as sombras das árvores, dos cães e das pombas
arrastavam-se pelas paredes de pedra.
Eu olhava para a casa, para as árvores
e para a silhueta que arralentava o canteiro das gerberas,
que me olhava com lábios lúzios e olhos nus,
a mesma nudez das mãos e da boca
na paixão que eu desenhava ao canto do quarto;
a mesma nudez do amor que fazia com o meu corpo trémulo,
antes que o toque da sineta anunciasse o almoço.
Francisco José Rito




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