HÁ UMA PRECE NOS VERSOS QUE DITO
Há um lugar
escondido entre a aridez dos montes
e a fúria das águas.
É um Éden que me resgata e refresca,
que me corre nas veias
e na profundidade dos sonhos.
Há uma paz
que sobrevoa nos fumos libertos
pelas chaminés deste tempo
sem fulgor.
Há um povo
que me habita e me move.
Uma gente vestida
da cor dos salgueiros
vergados aos vendavais de dezembro.
Uma aflição camuflada
nas cores garridas das laranjas maduras,
das magnólias florescidas,
dos alpendres caiados,
que lhes alegram o destino
dos invernos sombrios.
Há um orgulho
nos pés castigados pela lama parda
e nas mãos gretadas pela nortada agreste.
Há uma prece
nos versos que dito.
Oração de dar voz aos que a não têm.
Esses que me abordam nos carreiros da memória.
Esses que me consumo a procurar
nas viagens em que me percorro.
Francisco José Rito
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