SINA


Pinto-me no espelho

a ler poemas que trago esculpidos

nas linhas do rosto.


Sei-os de cor.

São-me o sangue dos dias;

gotas de desejo e de saudade

em versos pinceladas.

Confissões desenhadas na alma;

manuscritas no livro das vidas sonhadas.


Carrego memórias velhas.

Tão velhas como os salgueiros da minha rua,

que são velhos, e no entanto

ainda cantam nos fins de tarde de Agosto,

joviais e floridos, como se tivessem nascido há quatro luas.


Dou por mim regressado ao meu futuro.

Sabe-me a boca às azedas da beira do caminho

que vou mastigando enquanto cresço,

sentado à sombra dos salgueiros.

Os pardais fazem-me ninhos nos ombros:

tecem tranças dos meus cabelos ruivos

enquanto me segredam ao ouvido

a sina por demais decifrada:


serei lírio nos campos de março.

O meu querer será força

e o meu despertar, sorrisos.


Francisco José Rito




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