Joaquim Agostinho Miranda, prefaciador do livro “À procura do azul das coisas” de Francisco José Rito, foi locutor da Rádio Vizela e da Rádio Fundação.Atualmente integra o departamento comercial de uma grande multinacional. De uma conversa sua com o autor, surgiu esta (quase) entrevista:


"A poesia inspira o poeta ou o poeta inspira-se num desalinhamento com a poesia?"

- É o poeta que se inspira em momentos e sentidos nem sempre reais, nem sempre poéticos, porque as vidas nem sempre são belas. São por vezes ásperas, duras, cruéis.Ver poesia no rojar dos dias é privilégio de uns quantos, por mais tristes que os dias sejam. Ou não fosse a dor a maior musa.


Quinze livros publicados, maioritariamente poesia e apenas um romance. Como se vê o Francisco enquanto escritor?"

- Um eterno inconformado, com quase tudo por dizer, sem se prender a géneros.

"Se hoje parasse de escrever, como definiria a sua obra literária?"

- Tudo o que escrevi até hoje poder-se-á comparar a uma casa inacabada. Se parasse agora de escrever ficaria a obra sem telhado, sem portas, sem janelas, e com tantas histórias por idealizar, na sala, no quarto, na varanda, no jardim. Por idealizar e por contar! Sorrisos por despertar. Dores por sarar.

"O que ainda lhe falta dizer em prosa ou poesia?"

- Tantas coisas... Ainda não falei do inenarrável. Da agonia dos cumes da serra, vilmente açoitados pelos ventos de inverno. Do prazer das margens regadas pelos ribeiros, frescura que penetra a terra com a voracidade de quem faz um filho. Da insegurança do amante sucumbido ao êxtase.


"Quando refere que desafiava os autores nas entrelinhas, significa que a sua audácia para a escrita nasceu pelo impulso de mostrar uma outra forma de abordar a literatura?"

- Recordo esse tempo e acho-me incapaz de impor ou mesmo sugerir o que quer que fosse. Talvez a irreverência falasse mais alto. Ou talvez esta insaciedade já me habitasse na época.

"Depois desta espécie de resumo da obra publicada o que lhe apetece fazer a seguir?"

- Falar mais da nossa gente, principalmente dos castigados por este Portugal tão desigual. Seguir nesta cruzada de dar voz aos que a não tiveram. Que ainda a não têm! Estou neste momento a contar a história de uma mulher que se atreve a mexer no destino e paga bem caro o atrevimento. Mas, sobre isso falaremos depois...






Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pela visita. Este espaço é seu. Use e abuse, mas com respeito, principalmente por quem nos lê. Francisco