ATÉ À PLENITUDE


Guardarei na memória

as faces morenas da tarde

com o tempo a abrir caminho

para o Éden prometido, mareando

um barco que ancorará à minha porta.


Os sinos tocam trindades

e ouvem-se sussurros e preces

como quem desfia contas de um rosário

(é a maciez dos lábios quentes

como os raios de sol de agosto

a engomar-nos o linho do desejo).


Nunca mais os sinos chorarão queixumes

sem que eu recorde o diluvio que te escorre da nuca

inundando-te os seios, o ventre e as coxas.

Nunca mais o vento soprará suão

sem que eu sinta o esvoaçar dos teus cabelos

a enxugarem-me o peito.


E agora que a lua te deu um nome de lagoa

nadarei na serenidade do teu azul

para lá de todos os feitiços,

até à plenitude.


Francisco José Rito




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