DAI-ME UMA PEDRA EM VEZ DE CORAÇÃO

Dai-me a alma dos poetas
mas não a sua sina.
O êxtase da paixão mas não o desencanto.

Deixai-me esculpir vida nas estátuas frias
desenhar paixões a esvoaçar nos varais
ou nos parapeitos das janelas
dos amantes encobertos.
Pintar a tristeza da cegonha
que não migra porque partiu uma asa
ou da mãe que seca o rosto do filho com os dedos molhados pelo seu próprio pranto.
Dai-me uma pedra em vez de coração!
O coração é pássaro de asa partida
que não migra e anseia a nova primavera
que apenas lhe trará mais solidão.
Dai-me a alma dos poetas
mas não a sua sina.

Francisco José Rito



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