Partilho um poema antigo. Sem ir verificar, arrisco a afirmar que está no meu "Palavras Litorais", de 2012. Trata-se de um soneto, como se pode ver pela sua estética, métrica e rima ( soneto - composição poética formada por 14 versos, com dois quartetos e de dois tercetos). 

Estes dias vi por aqui uma imagem que retrata o miolo de um livro do David da Silva, um autor da nossa terra, que conheço desde sempre. Para meu espanto, vi lá o meu poema, junto com outros, de vários autores nossos conterrâneos. Partilho-o aqui porque, por razões que desconheço, o soneto aparece ali desconfigurado, como se pode ver.

Eis a versão original:


TRONO


No melancólico azul dos meus olhos d’água

Ainda bailam velas e homens. Outras vidas

Enfeitiçadas por auroras boreais e floridas

Marés de corpos seminus, da cor da mágoa


No dourado das minhas memórias há Arrais

Que escarnicam ordens e rogam pragas

Há tostes que dão de bordo e rasgam vagas

Há oásis verdes de moliço a enfeitar os cais


Marinhões, Matolas, Ílhavos, Vareiros

Ao leme, trono da glória ou da amargura

Donos da lagoa, à ré, por natureza


Que os reis da ria sois vós, moliceiros

Vós, homens de ferro e de ventura

Os barcos são apenas a vossa fortaleza


Francisco José Rito




Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pela visita. Este espaço é seu. Use e abuse, mas com respeito, principalmente por quem nos lê. Francisco