ERAM TRÊS DA TARDE
Nem o vento buliu, nem os sinos tocaram
quando o teu barco zarpou do cais.
Vi-te o olhar espantado mas seguro,
a coragem de partir sem hesitar,
a certeza de quem sabe o caminho!
Eram três da tarde
e o silêncio espraiou-se nas paredes do quarto,
burburinho rouco, a dizer-me que era hora.
Vi-te descer da tua cruz,
despir as carnes moribundas
e vestir o veludo da paz e da luz.
Suspiraste
e o teu suspiro foi brisa fresca
a amainar-me o ardor da despedida.
Deixaste um ror de dores aos pés da cama
e subiste a ladeira, descalça e segura
entre as Hortênsias e as Sardinheiras,
entre a Pomba e o Verbo
entre o meu amor e a promessa do infinito.
Eram três da tarde,
e as tardes nunca mais foram iguais.
Nem as tardes nem nós, Mãe.
Francisco José Rito
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