RELÓGIO PARADO


Oiço-te

nos queixumes

do amanhecer cansado

de se arrastar por montes e vales,

na luta inglória de perseguir os passos frenéticos

dos que anseiam desbravar florestas virgens.


Oiço-te

dentro de nós,

nas palavras que há muito

deixámos de dizer.

No quotidiano dos olhares disfarçados.

Nos discursos e gestos solenes, ensaiados.


E depois as tardes.

O silêncio perturbador

do relógio da sala, parado

num tempo sem datas ou horas marcadas.

Esta convicção de que tudo muda

em todo o lado, menos aqui.


Paramos na vida quando paramos

de acordar a meio da noite,

suados e inquietos.

Quando o porvir se adivinha

como o relógio da sala, parado

num tempo sem datas ou horas marcadas.


Francisco José Rito,

para uma imagem da Maggie Luijer






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