A LUA DEU-NOS DE BANDEJA O CLÍMAX


Entrou-me a tua voz pelo peito adentro

E eu, hipnotizado, pássaro no ramo

Deixei-me arrastar para lá do sentir

Para onde a razão deixa de existir


Fechámos janelas, rangemos desejos

As nossas bocas secas. As faces ruivas

Nervosos, sorvemos copos de tempo

Fizemos a cama com lençóis de vento


Ansiámos a promiscuidade da noite

Tresloucados, sôfregos, febris

Carnes abstidas da dor e do frio

Feras carentes na agonia do cio


A lua deu-nos de bandeja o clímax

As unhas cravadas no desespero

Sem marcas do pudor renegado

Num profundo clamor desnorteado


Brindámos com sussurros roucos

Ai de nós, transparentes e soltos

Ai das nossas almas pálidas de sede

O vício a desenhar sombras na parede


Quis chegar além da tua carne em chama

Mas o Fénix nos vidros apenas me permitiu

Acariciar com as minhas papilas roxas

A seiva que te escorria quente pelas coxas


Francisco José Rito




Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pela visita. Este espaço é seu. Use e abuse, mas com respeito, principalmente por quem nos lê. Francisco