AGUARELA

Trago os montes guardados na memória.
Regaços cheios de giestas e teixos florescidos.
No peito os cheiros do pinho verde,
das cerejas maduras e do trigo ceifado nos olivais.
Trago copas de carvalhos desenhadas nos longes,
num carrossel de cumes e veredas.
Pomares férteis e bosques silvestres
salpicados com madressilvas da cor do sangue,
onde as tordoveias fazem ninho
e as lavandiscas voam em ziguezague,
a pintar-me no olhar desenhos abstratos.
Trago o sol a nadar em linhas de água verde
que refrescam os penedos e os choupos
e apagam o lume da terra loira,
quando a tarde tomba fresca e meiga,
chegando a sombra aos currais em brasa
e às colheitas estendidas na eira.
Trago a encosta humosa das madrugadas
O manto de orvalho que rega as hortas
e o vento que enrijece os lençóis de linho,
a corar estendidos nos campos de trevo.
Trago retratos pintados das cores da alvorada.
Trevas rasgadas ao nascer do poema.
Palavra a palavra, estrofe a estrofe,
exponho aguarelas nas paredes da alma.
Francisco José Rito
para uma fotografia de A. B. da Silva



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