EI-LOS QUE CHEGAM

Malas cheias de sonhos.
Almas cheias de medos…


Trazem braços para labutar,
corações para sofrer,
olhos para chorar.


Cruzaram mares de esperança, 
na ânsia desmedida de aportar
ao Éden prometido.


Ei-los que chegam:
Baixos e roliços.
Faces coradas pelo sol das beiras,
da cor das tardes soalheiras,
nos campos que abandonaram.
A Cruz de Cristo a balançar no peito.
No bolso a promessa de voltar...


Elas escondem os cabelos e as lágrimas
com panos pintados de cores garridas.
Praguejam com o mesmo fervor
com que rezam as ladainhas da sua devoção.
Põem o bacalhau ao lume,
enquanto esbategam os trapos na tina
e chamam os filhos por vernáculos vários,
(entre o mel e o fel)
porque as horas do dia não têm todas o mesmo sabor.


Ei-los que chegam
e arrastam saudades pelas pedras das ruas.
Rilham os dentes. Choram em surdina. 
Esgravatam a sorte em cada esquina.


São de pedra; de ferro; de betão.
Embalam as dores ao som de um fado triste.
Pintam-se de coragem. Para trás não vão!
Porque o pão desta terra é amargo, mas existe.


Poema de Francisco José Rito

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