NO FUNDO EU SÓ QUERIA UM SORRISO
O vento apartou de mim
as folhas caídas e pude por fim ver
o rosto do meu corpo em êxtase.
Resignei-me
ao destino
de colher no regaço estrelas luzentes
mas nunca soube de onde me vinha o privilégio.
Limitei-me a olhar-me de longe e a sorrir
como sorriam os cachopos na pradaria, a sorver
esguichos de leite quente do úbere das vacas.
Depois deitava-me e sonhava
penitenciando-me pela ousadia de sonhar.
Castigava-me com a ferocidade das nortadas
que chicoteiam os milheirais de agosto
como se o sonhar estivesse apenas destinado
aos que nasceram na outra margem.
No fundo eu só queria um sorriso
um par de olhos, uma boca, duas mãos
para comigo viverem e morrerem.
O que demais vedes veio por erro no destinatário.
Francisco José Rito
(ilustrado por Elizabeth Leite)
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