ANTES QUE O OUTONO ACABE
O tempo é como as casas
que nunca mudam de cor.
Nada muda com o tempo,
tudo muda quando tem de ser.
O tempo é um velho
de olhar absorto e casmurro,
nuvens cinzentas e gordas
debruçadas em prédios da mesma cor
escurecendo as vidas das pessoas
cinzentas e gordas
que se arrastam pelos passeios.
O tempo sou eu.
Um velho de bengala e cabelos brancos
que se perde em labirintos na passadeira
para não alcançar a vida que há para viver
do outro lado da rua.
Corpo castigado pelo tempo.
Olhos secos pela longevidade dos dias.
Pele tricotada pelo sol das searas.
Pés cimentados pelo pó dos caminhos.
Peito oprimido pela incerteza das coisas.
O tempo é como as casas
que nunca mudam de cor.
É parede baça que urge pintar
antes que o outono acabe.
Francisco José Rito
(o Joaquim Miranda ilustrou)

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