UMA HISTÓRIA DE AMOR

Pimpão é um robalo que vive no cais da Cambeia dos Cardosos. De vez em quando, na maré alta, afoita-se a um passeio por águas mais profundas, à procura de novas experiências. Sim, que isto de viver num cais tem os seus benefícios, mas por vezes pode ser aborrecido! Um a um, viu partir todos os seus amigos de infância. Os peixes mais jovens, com o sangue na guelra, querem-se em ria aberta, propícia a aventuras que a vida dentro das paredes de um cais não lhes proporciona. Não os condena. Não fosse por ter nascido com uma barbatana maior que a outra e também ele teria nadado até onde as forças lhe permitissem chegar, mas teve que se resignar às suas limitações. Além disso, pensou em constituir família e o abrigo do cais inspira-lhe mais confiança para criar os filhos que a mãe natureza lhe der. Numa dessas raras vezes que nadou até ao Laranjo, conheceu Ludovina, a tainha com quem decidiu formar um lar. Ludovina percebeu a sua incapacidade e não hesitou em vir morar para o cais, onde têm vivido a mais bela história de amor. Por vezes, ao fim da tarde, ele pisca-lhe o olho e dão um saltito para cima do enorme baloiço que lá está na borda d´água, e embalam, agarradinhos, a apreciar o lusco-fusco… Mas a alegria só lhes dura até o gato do Donaciano se aperceber da sua presença e lhes aparecer, sorrateiro, disfarçado no combro de tramagueiras, a tirar-lhes as medidas!
Francisco José Rito, in "Diabruras, Momices e outras Trapalhices"
(a foto é do Feliciano Oliveira - Cais da Cambeia - Murtosa)



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