ORAÇÃO
Deixai-me sonhar
a quimera da criança triste
que pinta a tristeza com cores garridas
e do alto da sua perseverança
rasga sorrisos nas bocas cerradas.
Deixai-me sofrer
a dor das pedras da calçada
moídas pelo desassossego dos pés em corrupio
e que eu saiba sempre encontrar-me
nos desvios imprevistos da caminhada.
Deixai-me viver
a penitência dos amantes embrenhados.
Suor com suor, sangue com sangue,
num cirandar de libido e fulgor,
com gritos de dor e espasmos de alma
e de raiva e desejo e amor.
Deixai-me sentir
o que sentem os felizes.
Viver como quem escala montanhas
e morrer como quem abre janelas viradas para o mar.
Francisco José Rito
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