Eu não sou da mesma idade
do dia em que nasci.
Sou da idade
do dia em que me despedi
da terra que me pariu,
escapando às águas frias
da lagoa dos meus medos.
Lagoa que fez margem no meu corpo;
que fez leito na minha irreverência
e me pintou da cor dos barcos e das redes
e dos arados e das leivas
e dos braços tisnados
e dos ombros cansados.
Eu não sou da mesma idade
do dia em que nasci,
que eu não nasci no dia
que rasguei o ventre à mãe,
mas no dia em que mergulhei
no mar de lágrimas do seu adeus.
Sou da mesma idade
do querer que me levou,
do destino que me cumpriu,
da vida que me viveu,
das malas cheias de incerteza,
do avião lotado de sonhos.
Nasci quando corri mundo,
e o mundo correu por mim.
E a estrada aonde passei
ergueu desvãos sombrios,
trilhos secretos,
que percorri sozinho...
E vi pedras. E vi lama.
E vi olhares e descrenças
e desprezo e azedume.
Mas o rio que sou
fez-se mar e correu, sem se reter
nas mil margens que beijou.
E houve espuma e espanto e rancor
e mágoas e perdões,
mas o meu rio foi além…
… Sempre além!…
… Muito mais além de mim.
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