EM VIAS DE EXTINÇÃO



Não é conclusivo o início da tecelagem no mundo, mas imagino que terá vários milhares de anos. Diz-se que o Homem do Paleolítico o terá inventado para substituir as pesadas peles de animais com que cobria o corpo e se protegia do frio. Deve ter nascido assim a ideia do têxtil e da tecelagem, técnica artesanal que, ao longo dos tempos se foi desenvolvendo e melhorando, tanto no que respeita às ferramentas, como às técnicas.

São poucas as pessoas que ainda hoje se dedicam à tecelagem, utilizando os métodos e os utensílios tradicionais. Contudo, através de uma curta pesquisa, descobri que além da minha terra, ainda é possível encontrar os tapetes e as cobertas de tiras feitos de forma artesanal, pelo menos nos concelhos de Arouca e Estarreja. Na Murtosa esta arte foi desde sempre praticada pelas mulheres, que teciam ao serão, e se bem que nas últimas décadas se tenha perdido nas outras freguesias, na do Bunheiro os teares ainda continuam em actividade.

Em Arouca, embora haja particulares a fazer tapetes de trapos, este tipo de artesanato é desenvolvido sobretudo no Patronato "Centro de Promoção Social Rainha Santa Mafalda", um centro que acolhe crianças. São elas que fazem os tapetes, com a coordenação das educadoras, os quais são expostos ao público todos os anos. Aqui a tecelagem é entendida como uma actividade de interesse pedagógico-didático.

No Concelho de Estarreja, era em Pardilhó que existia o maior número de pessoas a trabalhar e a viver desta arte. Os tapetes que aí ainda encontramos são feitos a partir de trapos velhos ou tiras de tecido, geralmente muito garridos. Podem também ser de algodão ou linho, quer lisos quer puxados. São uma relíquia cultural que corre o risco de se perder, se não houver incentivos. A acontecer será uma pena, porque são produtos bonitos e de grande qualidade.

Ainda há algumas décadas estas terras eram grandes produtoras de passadeiras, tapetes, cobertas e mantas de tiras. Actualmente, esta arte encontra-se praticamente abandonada pois, apesar de ser uma herança familiar bastante enraizada, são poucos aqueles que se interessam em aprendê-la e dar-lhe continuidade. É muito trabalhoso e pouco rentável. A caminho da praia da Torreira, há um quiosque de produtos artesanais que os vende. Duram que se fartam.

Na casa da minha Mãe existem muitos, que ela foi comprando e outros que vieram da casa
da minha falecida Avó. As passadeiras vendem-se a metro, pelo que se podem adquirir do comprimento que se desejar, para halls de entrada, corredores, escadas...
Existem também conjuntos para quarto, em três peças, dois laterais e um para os pés da cama. Jogos de sala, em comprido ou quadradas para debaixo da mesa. Para a entrada da porta. As mantas, que são pesadas mas aquecem na cama. Em forma de naperões , em linho branco ou garridos. Ultimamente apareceram até em forma de marcadores para usar na mesa, por baixo do prato.

Por serem de fabrico artesanal, constituem uma riqueza inigualável. A experiência, sabedoria, alegria e tradição que eles nos transmitem transportam-nos para uma época em que a sua confecção era motivada por necessidades vitais e de sobrevivência. Utilizados sobretudo para uso próprio e aproveitando quase exclusivamente roupas velhas, conseguia-se a produção económica de tapetes e mantas, num processo em que o segredo era o aproveitamento. Daí à sua comercialização o passo foi pequeno, já que esta arte popular depressa ganhou fama, pela sua qualidade e originalidade.

Francisco Vieira


.

8 comentários:

  1. Manuel Bastos7/9/09

    Bem...desta vez não me posso limitar a comentar. Tenho também de te agradecer o facto de trazeres aqui a lume um assunto que aliado ao "meu" Mosteiro e á revitalização de "Cister" em Portugal, constituem a menina dos meus olhos, O Bem -Saber e o Bem -Fazer do nosso Povo.

    É sem dúvida grande o saber do nosso povo e grande a sua tenacidade. Causticados por uma vida de trabalhos e dificuldades, tinham ainda força e ânimo para se entregarem ainda a serviços pesados e trabalhosos como de entre outros, o da tecelagem de trapos.

    Toda uma riqueza cultural que a pouco e pouco se extingue e em alguns casos, para sempre irremediavelmente perdida. Em Arouca, idas já a maiorias das tecelãs e outras artesãs, que tão bem trabalhavam o trapo, com seus liteiros, tapetes e passadeiras, as lãs

    Com as peças que os haveriam agasalhar em rigorosos invernos, desde as simples meias ao cobertores de papa, o burel tecido com o pelo das cabras com que as gentes mais da serra faziam os seus fatos e suas capas que os mantinham quentes nas intempéries dos montes, no apascentar do gado e por fim o linho essa matéria prima nobre com que faziam as roupas de cama, lençóis e belíssimas cobertas de puxados e repuxados e as roupas mais finas de corpo, depois de lhe retiradas a estopa e os tomentos, que tecidos, dariam um pano mais grosseiro, com que fariam as enxergas, os panos de cozinha e outros. Não fosse mesmo o Patronato, espaço criado para recolha de meninas órfãs e de famílias sem meios de subsistência e muito se teria já perdido.
    Por agora e porque se alongaria demais o comentário, deixo-me ficar por aqui, na certeza porém, se mo permitires, de voltar a falar do Patronato e da sua Obreira que entre outras coisas tão bem soube fazer a recolha, a promoção e continuidade de tão grandes valores culturais.



    Um abraço Francisco

    ResponderEliminar
  2. Para que esta arte teha futura à semelhança de outras artes era preciso que alguém finalmente percebesse que a unica saída para Portugal era orintar o País para o turismo de alta qualidade, promover lá fora tudo o que temos de fantástico e que não existe em mais nenhuma parte do Mundo.

    Um Abraço

    ResponderEliminar
  3. Pizz Buim7/9/09

    Por exemplo, os tapetes de arraiolos e as tapeçarias de portalegre atingem valores exorbitantes por metro quadrado.

    ResponderEliminar
  4. Daniel Cristal7/9/09

    Um abraço ao amigo Francisco Vieira
    Aceite um laço verde,
    Daniel

    ResponderEliminar
  5. Amigo Daniel, boa tarde antes de mais e desculpe a minha ignorância, mas não percebi o "Laço verde".
    Um Abraço

    ResponderEliminar
  6. Bom dia Manel. Sabes que aqui no canto tens sempre a porta aberta para falares do que queiras, sendo aqui ou na primeira pagina. Aquele abraço

    ResponderEliminar
  7. Pizz, mas esses pelo menos são reconhecidos. Os nossos nem isso.

    ResponderEliminar
  8. LBJ, já por mais que uma vez disse isso aqui no canto.
    http://namoradodaria.blogspot.com/desenvolver é preciso ,
    por exemplo
    Um abraço para ti

    ResponderEliminar

Obrigado pela visita. Este espaço é seu. Use e abuse, mas com respeito, principalmente por quem nos lê. Francisco