EM TERRA ONDE NÃO HÁ PÃO...

Perde-se no tempo a arte da apanha de bivalves na Ria de Aveiro. Conheço pessoalmente famílias inteiras e para além das que conheço, haverá centenas por essas terras da borda d'agua que desde há décadas vivem disso. Da apanha de burrié, berbigão e amêijoa no leito destas águas. Uma vida ingrata, difícil e perigosa, que está constantemente à mercê das condições climatéricas, dos ventos, das marés e também das "caçadas" furtivas da Policia Marítima.

De há uns anos a esta parte, descobriram as toxinas nas águas da Ria, o que provoca várias épocas de proibição na apanha destas espécies.
Começa então nessas fases "o jogo do gato e do rato" entre os Pescadores e os Marinheiros.
A forma de apanha dos bivalves alterou-se na última década. O que era antes feito apenas nas horas de Baixa-mar, caminhando e cavando nas praias e areais, agora passou a ser feito no leito da Ria, mesmo nas zonas mais profundas, com equipamentos sofisticados de mergulho.

Muito se tem escrito sobre este tema . Fala-se na questão da saúde pública, consequência da contaminação das toxinas. Fala-se na provável extinção das espécies, por as irem apanhar aos fundões onde criam (antes eram apanhados apenas quando subiam às praias, já na idade adulta). Se os pescam no fundo, não chegam nunca a procriar...
Diz-se também (os próprios pescadores) que as lamas que são calcadas, acabam por apodrecer, o que impossibilita o crescimento das especies por algum tempo.

Com tudo isso concordo. Aceito que se previnam doenças, que se estabeleçam épocas de defeso. Que se proíba a apanha submarina dos bivalves, como forma de preservação do seu habitat natural e da sua procriação, mas há um tema sobre o qual ainda não li em lugar nenhum. A outra face da moeda, os Pescadores, as suas famílias e a sua subsistência...
Esses milhares de bocas que dependem desta actividade.
Que alternativas tem esses homens, mulheres, adolescentes e jovens, nas épocas em que não podem trabalhar na Ria???...

Não nos podemos esquecer que estamos a falar de pessoas, na sua esmagadora maioria, com pouca ou nenhuma preparação, quase todas a viver no limiar da pobreza. A conjuntura actual do país e do mundo ainda veio agravar a sua já precária situação, porque muitas que encontravam sustento noutras áreas, agora não tem outro remédio do que se aventurarem neste trabalho.
Muitos trabalhavam na construção civil, que está praticamente parada, outros em várias empresas da zona que foram fechando. A maioria eram Pescadores nas muitas frotas bacalhoeiras de Aveiro, que nas últimas duas décadas foram abatendo os barcos, um a atrás do outro e os foi atirando para o desemprego e para uma crise social profunda e irreversível.

Visto isto, que moral tem o Governo, a policia marítima e outras entidades para criticarem e perseguirem esta gente? Para lhe aplicarem coimas que chegam a atingir os 4000 (quatro mil) euros? Estão errados os Pescadores? Concordo. Desobedecem à lei? Acredito. Mas se não o fizerem, como conseguem manter os filhos? Que alternativas lhes dá este Governo? Será que os recursos materiais e humanos que dispendem para perseguir diariamente esta gente, não deveriam ser utilizados na criação de formações e de postos de trabalho para quem os quiser? Ou acreditará alguém, que estes homens e mulheres vão para a Ria por gosto ou prazer? Será que estes jovens não anseiam um futuro melhor, que os livre deste "destino" a que já os seus pais estiveram condenados, estão eles agora e estarão seguramente os seus filhos?

2 comentários:

  1. OLA AMIGO QUE LINDO ES SABER QUE AI UM SER TAO ESPESEAL COMO TU... FOI UMA JOVEM QUE APENAS COM 9 ANOS DE IDADE COMESEI NA RIA DA MURTOSA NA APANHA DO BORRIE COMECEI COM O MEU PAIZINHO E COM AS MINHAS TIAS AS MOLEDAS ELAS AINDA SE DIDICAU A ESA VIDA QUE E O QUE PODEM MANTER OS SEUS FILHOS E OS FILHOS SEGUEM COM O MESMO TRABALHO PRA MANTER OS NETOS E BEM E ASI PASA A GIRACAO CONTINUA NESA VIDA QUE TANTAS BEZES ENCONTRA COM PERIGO DA VIDA MAS E ASI QUE... FOI MUITO FELIZ E TANBEM EI PASSADO POR MUITOS PERIGOS NA CAL SECA QUE AI CUANDO FOI DESCUBERTO O BORRIE ERA UMA FELICIDADE CUANDO CHEGAVAMOS COM OS SACOS DE SARPENHEIRA CHEIOS DE BORRIE E TODOS CANTAVAMOS NA BATEIRA SO PRA QUE AS DEMAIS BATEIRAS SOUBECE QUE TINHAMOS FEITO UMA BOA MARE DO RRIO NO DIA SEGUINTE TODAS AS BATEIRAS SEGUIAO A NOSSA PORCO ASI E QUE TODOS PODERIA GANHAR O DIA SEM MUITO ESFORSO ME RECORDO TANTO DA TUA ERMA JULIA QUE ELA GOSTAVA MUITO DE ER NO NOSSO GRUPO O GRUPO DO TI AGOSTINHO MOLEDA ASI DEZIA ELA QUE VIDA ERA TAO DEFERENTE MAS NA VERDADE SINTO MUITO ASA FALTA DE SER A ROSARIA A QUE LE CHAMAVAO A CANPIONA DO BORRIE JAJAJAJA QUE CANPIONA..... UM ABRASO AMIGO E SEGUE ASI COM ESAS LINDAS ESTORIAS VERDADERAS QUE... DEUS TEM GRANDES COISAS PARA TI... AMIGO

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  2. Timtom13/5/09

    único, temos aqui um texto escrito em murtosês genuino!

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